Inclusão Digital da Educação nas Regiões Periféricas

Notícias 6 de Out de 2021 EN ES

Até os dias de hoje vemos resquícios do modelo de produção industrial, principalmente no trabalho e nas escolas. O modelo linear, previsível e segmentado que favorece a disciplina, a discriminação e a repressão do que é julgado "abaixo do padrão". A vigilância, as hierarquias e, em geral, o controle e organização dos proprietários em uma só massa homogênea e funcional são as bases para esse modelo funcionar.

Seu objetivo sempre foi e será sustentado como estruturas de poder e garantir uma eficiência que mecânica para a máquina do capital. Uma transição digital que vivemos é suficientemente capaz de implodir essa máquina que oprime e explora a população periférica, transformando-a em peças necessárias e utilitárias, tirando dela o pensamento crítico e analítico sobre o mundo em volta.

Contudo, uma pergunta que devemos fazer é: nas salas de aula e escolas, essa população tem acesso a isso? Você está sendo garantido os seus direitos à cidadania e à inclusão social e econômica? Ou essa população ainda está presa em um modelo linear, previsível e segmentado, transformando-se em peças apenas desejáveis ​​e utilitárias para este sistema funcionar?

As novas tecnologias de informação sem dúvidas novos modos de comunicação. É importante destacar que a comunicação não se trata apenas de transmitir mensagens ou representar como coisas, mas de produzir e ordenar tais coisas. Os meios digitais não apenas alteram a maneira como enviamos mensagens, mas abrem o espaço para novos modos de transformação e ordenamento do mundo ao redor.

Trata-se de um meio abrangente e ágil, capaz de conectar tudo e todos, quebrar a linearidade das coisas e tornar tudo completamente imprevisível. Tais características dos meios digitais não afetam apenas a comunicação, mas toda a organização de uma sociedade. A exclusão abre espaço digital para muitas outras formas de desigualdade, já que essas pessoas tornam-se presas a um modelo totalmente fechado e previsível.

O analfabetismo no Brasil não é um problema presente apenas na exclusão digital. E é notório que aqueles que não são capazes de ordenar o mundo à sua maneira por suas próprias, certamente serão ordenados e controlados por outras chamadas (as grandes máquinas e sistemas predominantes na sociedade e comumente aceitos pelo senso comum). Observamos, pois, uma população marginalizada, discriminada antes aprisionada por esses frames, como o Estado, a Religião e o Capital.

A educação, tal como se encontra hoje, nada mais que prepara as pessoas para serem peças dessa máquina, desprezando a cidadania, o senso crítico e entre outros fatores relevantes para a inclusão social da população periférica contra a discriminação e para preparar os fazer algo relevante ao mundo. Afinal, este é o propósito final de todo modelo de educação.

De acordo com o sociólogo Manuel Castells, a internet é um novo modo de distribuir informação, poder e conhecimento, e assim apresenta quatro pontos essenciais do digital ao desenvolvimento da sociedade, sendo eles: a ruptura com mídias de massa, a construção de novas ideias e futuros por pessoas comuns, a abertura para um mundo sem fronteiras ou hierarquias e a evolução de um desenvolvimento igualitário.

É muito mais, portanto, do que transmitir mensagens, mas se trata de como a sociedade passa a se organizar e distribuir as relações de poder. Tal exclusão das comunidades mais periféricas desta está ligada à má distribuição da educação, à constante inovação tecnológica que cria cada vez mais necessidade no mercado e o fato de estar a internet conectada aos setores econômicos.

Uma pesquisa do The Economist, levando em consideração a alfabetização, a segurança de uso e políticas de incentivo, mostra que o Brasil se encontra na posição 31 de 100 países no que diz respeito à contribuição da internet com os fatores socioeconômicos. Os principais usos no Brasil são para serviços bancários, de saúde e de entretenimento.

Há estruturas culturais e modelos cognitivos que impõem essa desigualdade e que apenas transformam a internet em um dispositivo de poder, que direciona os esforços para consolidar a globalização econômica, desconsiderando totalmente também o desenvolvimento de novos modelos educacionais estruturados no ambiente digital. No fim das contas, a ausência da alfabetização digital nas classes periféricas apenas favorece um novo apartheid social e a alienação dessa população.

Um exemplo que pode ser considerado como pertencente a esta vanguarda da inclusão digital na educação periférica é o do produtor de conteúdo e graduando de história, "Audino Vilão". O universitário produz vídeos explicando conceitos filosóficos e seus respectivos autores por meio da linguagem e das periferias paulistas.

Recentemente, ele trouxe conteúdo a respeito da situação atual no Afeganistão, sobre mitologias e religiões discriminadas (como a africana), sobre problemas como ansiedade e depressão, e sobre as manifestações recentes e eventos políticos no Brasil (como a queima da estatura de Borba Gato e os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro). Trata-se de um conteúdo que estimula o senso crítico e a conexão desse público mais periférico aos fenômenos sociais da atualidade e, simultaneamente, ao ambiente digital.

Outro exemplo, contudo, voltado para as instituições de ensino e empresas (e este fora do Brasil, mas ainda acredito que podemos usar como base para entender a educação periférica) é o do projeto DES (Detroit Experience Studio). O projeto busca inserir crianças negras e pardas no mundo da publicidade, da tecnologia e das metodologias criativas. Nesse sentido temos um exemplo da inclusão de estudantes de regiões periféricas nos Estados Unidos no universo digital.

Ainda assim, não basta tão somente proporcionar o acesso, ele é sim a primeira coisa a ser buscada, mas não a única. É preciso entender também como relações de poder que se exercite também neste meio e utilizar o sistema contra o próprio sistema. A educação é a segunda ponta para reverter a transformação da internet em um novo modo de poder que favorece os grandes poderes globais.

Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, o capitalismo contemporâneo visa produzir revoluções de tecnologias de informação alimentado pela força dos grandes investimentos financeiros internacionais. Trata-se da consolidação dos novos impérios contemporâneos transnacionais que concentram riqueza, pesquisa e inovação científica e tecnológica, molde ao mercado, o controle e o poder sobre as sociedades no mundo.

Em vista disso, a acessibilidade digital das comunidades periféricas é o primeiro passo para começar a se estimular a educação e o conhecimento, a cidadania, uma participação ativa nas críticas e analíticas sobre problemas sociais, entre outras oportunidades para as comunidades periféricas, dando a elas potência para escapar a um sistema de exploração e opressão.

Todavia, não se trata apenas disso: ao sermos integrados ao mundo digital, estamos ainda reféns de uma nova maquinaria social orientada ao mercado, estamos sob uma mesma vigilância e disciplina (o mesmo modelo industrial): preços, capital, notícias e notícias falsas, consumo, preferências, escolhas. Não somos mais peças, somos consumidores e internautas presos na banalização pelo consumo: vivemos em uma sociedade de controle.

O próximo passo pós-acessibilidade é enfrentar o capitalismo mundial integrado, o controle hegemônico sobre os dados, sobre o consumo e a produção de bens e produtos e, finalmente, sobre o mercado financeiro. Trata-se de mais um modo de dominação e sujeição que não se aproveita mais da discriminação, como da inclusão. O acesso sem consciência apenas em uma captura dessas pessoas pela máquina capitalista global.

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