#OpColômbia

Operações 20 de Jun de 2021 EN ES

Embora seja a quarta maior potência econômica da América Latina, a Colômbia ainda sofre de grande desigualdade social, fruto da política das últimas décadas. Por ter como principal atividade a exportação de commodities, sua economia também está sujeita a impactos das cotações internacionais desses produtos. Uma das grandes dificuldades do país é manter-se confiável perante credores internacionais, ficando sujeita a diversas formas de pressão econômica externa em situações de crise. Com a pandemia de Covid-19 em 2020 o país sentiu um impacto muito grande, que interrompeu a expectativa de crescimento do ano anterior e resultou em uma situação delicada para o governo.


Motivação dos Protestos


Em 15 de Abril, foi apresentado um projeto de reforma tributária ao Congresso. O objetivo central era o aumento da arrecadação de impostos para sustentar programas assistenciais e garantir a confiabilidade do país a financiadores externos. A maneira como a proposta se deu, no entanto, geraria impacto sobre as classes mais pobres e a classe média, de forma desproporcional. As principais alterações envolviam diminuição da renda mínima para cobrança de imposto de renda, além do aumento de impostos sobre serviços básicos. Diante da insatisfação de vários setores organizados da sociedade, o governo retirou a proposta de votação e se comprometeu a elaborar um projeto que fosse mais oneroso às classes mais altas, mas outros fatores acabaram dando força aos protestos. Entre os principais estão a violência policial e a desigualdade econômica já sentida pelo país. Um terceiro fator também é a ação truculenta do atual governo em regiões com maior interferência do narcotráfico, que contrariam uma proposta de acordos e transformações em direção a uma sociedade mais pacífica idealizada há 5 anos. Junto das manifestações nas ruas, algumas greves foram iniciadas e há um amplo movimento nos meios digitais.


Contradições da Reforma


Embora a proposta da reforma tivesse como motivação a injeção de dinheiro público em projetos que beneficiariam as classes mais pobres, a população se manteve cética em relação ao quanto esses benefícios seriam compensatórios. O país segue uma política de austeridades, com o atual presidente Iván Duque sendo um grande aliado do setor privado. Ainda, parte da proposta inicial, apesar de mais onerosa à classe média, atingiria indiretamente toda a população mais pobre, com o encarecimento de serviços, muitos deles essenciais. Um aumento da gasolina, por exemplo, impacta diretamente sobre o valor final de produtos em geral. A reforma foi recebida como um malabarismo para evitar atingir os núcleos mais ricos do país, como uma redistribuição de recursos, mas apenas nas camadas mais pobres.


Reflexos Imediatos


Após a retirada da proposta quatro dias depois do início dos protestos, a primeira mudança sentida pela gestão federal foi a demissão do Ministro da Fazenda Alberto Carrasquilla, neoliberal ortodoxo e grande representante da visão econômica do atual governo. Não foi o suficiente para apaziguamento das manifestações, que têm como alvo o clientelismo político e econômico de todo o governo. O uso de diversos dispositivos de repressão do estado, sobretudo da truculência policial, fez com que os protestos ganhassem ainda mais força.


Violência policial


Os protestos se iniciaram em 28 de Abril, quando houve a primeira morte civil. O epicentro dos confrontos se tornou a cidade de Cali, mas os episódios de violência se estendem por todo o país. Os registros oficiais já apontam mais de 30 mortos e 800 feridos. Outras cidades ajacentes também foram recentemente militarizadas como forma de coibir os protestos. Mesmo nas cidades que se negaram à militarização, como Bogotá e Medellín, soldados circulam pelas ruas por ordem federal. A reação violenta da polícia, mesmo sobre os protestos pacíficos, foi criticada internacionalmente por diversas instituições relacionadas aos Direitos Humanos. Como justificativa, o governo insinuou que membros do crime organizado estariam infiltrados nos protestos, classificando os protestos como "terrorismo urbano". A estratégia de criminalização de movimentos sociais é bastante comum a governos de postura autoritária, como é observado em outros países da América Latina, entre eles o Brasil.

Vídeos registram situações de agressões desproporcionais da polícia até mesmo contra mulheres, crianças e idosos. Também há ocorrência de uso de armas letais, com destaque para a divulgação do vídeo do assassinato de um manifestante com dois tiros pelas costas. A polícia chegou a reagir com tiros contra sacadas de apartamentos de onde havia pessoas apoiando os protestos. Entre os relatos também estão incêndios de moradias usadas como abrigo contra as forças policiais e a recepção a tiros de membros de conselhos e comissões chamados para verificar as denúncias de abuso. Já são mais de 10 registros de agressões sexuais contra mulheres, outra estratégia comum usada por governos militarizados contra suas populações.


Contradições do Governo


Não apenas na esfera federal, mas alguns governadores de departamentos e prefeitos se juntaram no discurso de que organizações criminosas nacionais e internacionais estariam por trás da organização dos protestos, que classificaram como atos criminosos. Nenhuma evidência até então foi apresentada. Pessoas seguem sendo presas e até mesmo deportadas sob essa alegação, e a escalada da repressão violenta também aumenta, disparando os processos de militarização em mais regiões do país. É possível que o governo de Iván Duque tenha encontrado nessa situação a oportunidade de forjar a necessidade de uma intervenção violenta direcionada a setores da sociedade com que já possuía atritos. Nas regiões onde há influência do narcotráfico, o governo já vinha agindo de forma violenta com a população e sobretudo com lideranças civis.


Impactos diretos à sociedade


Embora muitas pessoas estejam indo às ruas, o país ainda enfrenta a situação da pandemia e grande parte da população permanece em casa, apoiando os protestos a partir de meios digitais. No entanto, além do impacto econômico que o país já vinha sofrendo, restrições de locomoção causaram falta de abastecimento de comida em alguns comércios. A escalada de violência impulsionada pelo próprio governo fez com que as pessoas viveciassem uma rotina de medo que já existia antes mesmo da proposta de reforma tributária.


Censura e Distorções


Grandes meios de mídia do país fizeram a divulgação dos protestos como se fossem apoio às reformas, tentando conduzir a opinião pública em favor das decisões do presidente e do Congresso. Nas ruas, a polícia por muitas vezes tem atuado sem identificação e usando capuzes, dificultando seu reconhecimento. Tem sido relatada a agressão e difamação de jornalistas, assim como apreensão de material por parte da polícia. Em meio ao crescimento das denúncias da população feitas pela internet e divulgação de vídeos ou pedidos de ajuda, o serviço de internet foi interrompido extra-oficialmente na cidade de Cali, no último dia 5, segundo relatório da NetBlocks.


Fascismo em ascensão

A Colômbia também possui em seu território grupos conservadores de extrema direita organizados, que agora apoiam o governo e as forças policiais. Um dos cuidados estabelecidos pela maioria dos protestos organizados pela sociedade civil envolve a vigilância para impedir a entrada desses grupos, que reforçam a agressividade policial e atacam manifestantes diretamente fazendo uso de armas, ou infiltrando pessoas para iniciarem conflitos e justificarem resposta agressiva da polícia.


Anonymous
A atenção internacional foi atraída a partir das redes sociais pela hashtag #SOSColombia, usada como marca para as denúncias e vídeos registrando o uso de força excessiva e desproporcional por parte das polícias. Diante de cenário, células anons de várias partes do mundo iniciaram ataques aos sistemas do governo colombiano, resultando no vazamento de dados, entre eles o governo de Cali, a Corte Constitucional e o Ministério de Justiça. Atualizações dessas ações podem ser acompanhadas pela hashtag #OpColombia. Várias contas associadas à Anonymous declaram apoio às manifestações populares, em oposição à truculência policial e aos movimentos organizados da extrema direita que também passaram a atacar a população.

Assista nosso vídeo sobre a questão da colômbia

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